Capítulo 8

    Sabe quando você fica muito pilhada pra se arrumar para uma festa? Então...eu estava assim.A Sam ainda não tinha aparecido e eu já tinha tomado banho, escolhido a minha roupa e separado a maquiagem.Estava de roupão na cama esperando ela chegar, reblogando e twittando sem muita animação.Meus irmãos estavam cada um em seu quarto, fazendo sei lá o que, até que a campainha tocou.
    Larguei o computador na cama, abri a porta e corri pelo corredor.Meu irmão já estava lá pra atender e eu cheguei por trás dele estrondosamente.Quando ele abriu, senti a decepção tomando conta de mim.O entregador da pizzaria do quarteirão seguinte estava na nossa frente com duas caixas e uma coca-cola.Gabriel pegou o pedido e levou até a cozinha.Voltei para meu quarto e esperei mais um bom tempo até que a campainha tocou de novo.
    -Alguém pode atender? - meu irmão gritou - Estou comendo.
    Corri de novo pelo corredor, e abri a porta com tudo.Lá estava a Sam com uma mala vermelha na mão.
    -Pensei que nós tínhamos combinado às cinco horas.Onde você... - e estanquei quando vi quem estava atrás dela.
    Marcelo estava encostado na parede contrária à da porta, me encarando de cima a baixo.Olhei para ele e para Sam repetidas vezes, não entendendo o porquê de os dois estarem ali ao mesmo tempo.
    -Ei,cara, - Gabriel apareceu atrás de mim - não sabia que você ia vir aqui hoje.Acabei de pedir pizza, quer um pedaço?
    -Quero. - Marcelo passou por mim e pela Sam, entrou e foi até a cozinha com Gabriel.
    -Você tinha me avisado que ia vir?Porque eu realmente não lembro de você ter dito alguma coisa.
    -Eu não ia vir hoje, mas minha irmã disse que precisava de carona até a casa de uma amiga e depois pra uma festa lá no H e, muito ironicamente, eu vim parar aqui.
    Eu e Gabriel engasgamos ao mesmo tempo, ele com a pizza e eu com o choque.
    -Espera aí, - meu irmão tentava se recuperar - você tem uma IRMÃ?Desde quando?
    -Marcelo, - Sam entrou com a mala - por que não me disse que aqui era a casa do seu melhor amigo?
    -Tinha alguma imporância pra você? - Marcelo continuava comendo - E como eu ia saber que a sua amiga era a irmã dele?
    -Okay, esperem. - eu me meti no meio - Quer dizer que o irmão de quem você falou era o Marcelo, e você - falei olhando para ele - tinha uma irmã  e , ironicamente, ela virou minha amiga?
    -É por aí. - Marcelo disse com uma raiva que eu não conseguia entender - Eu trouxe a Samantha aqui pra vocês se arrumarem e levar vocês duas pro H.Não está na hora?
    -Como você é grosso. - Samantha pegou meu braço e me arrastou pelo corredor - Vamos nos arrumar pra festa.
    Ainda não tinha me recuperado da nova informação que tinha sido empurrrada para dentro do meu cérebro.Marcelo era irmão da Sam? A SAM ERA IRMÃ DO MARCELO? E pior ainda: O MARCELO NOS LEVARIA ATÉ A FESTA?! Quando foi que eu deixei passar essa informação?Estava passando de chocada a totalmente perturbada.
    Como não tinha o que fazer, respirei fundo e levei a Samantha até meu quarto para nos arrumarmos.Aquele garoto não ia ferrar com a minha cabeça daquele jeito.Eu ia me divertir, dançar e, talvez, ficar com um menino muito bonito.Não ia deixar que ele estragasse tudo.
    Enquanto Sam fazia chapinha, comecei a colocar a roupa.Tinha escolhido uma blusa de croche de mangas longas e ombro caído, uma saia preta soltinha com um sinto fino e o único salto preto que eu tinha.Fiz a maquiagem, que não passava de uma camada a mais de rímel que o normal e um gloss, e dei uma mechida nos cabelos.Quando Sam saiu do banheiro, ela estava deslumbrante.Estava com um vestido branco colado no peito e solto na parte de baixo, com uma faixa azul e um salto da mesma cor que a faixa.Também tinha passado pouca maquiagem, rímel, lápis preto e um batom clarinho.Batemos algumas fotos no espelho do meu quarto e saímos. 
    Quando chegamos na cozinha, minha irmã tinha se juntado aos meninos.Sam pigarreou e todos olharam para nós.Meu irmão engasgou com o refrigerante, minha irmã ficou tão emocionada que quase começou a chorar, e Marcelo...bem, Marcelo estava com uma confusão no rosto.
    -Como estamos? - Sam perguntou.
    -Estão maravilhosas, meninas.Totalmente maravilhosas. - Andressa falou - Mari, não sabia que você tinha esse tipo de roupa.Está linda demais, maninha.
    Meu irmão correu para a sala e pegou o celular.Estava discando alguma coisa com tanto desespero que parecia que alguém tinha morrido.
    -Pra quem está ligando? - perguntei para ele.
    -Pra academia.Vou começar a treinar amanhã mesmo.Pelo jeito, vou ter que bater em alguém mais cedo do que eu esperava.
    Andressa foi até ele e tirou o celular da sua mão.Samantha riu com a atitude do meu irmão, e eu até achei divertido.
    -E você, mano, o que achou? - Samantha perguntou para o Marcelo.
    -Vocês estão... - ele olhou para mim por mais tempo do que devia - lindas.
    -Ótimo.Vamos logo? Não quero chegar muito tarde.Pega as chaves logo, Marcelo. - Samantha disse, já se encaminhando até a porta.
    Marcelo saiu do balcão, pegou as chaves e foi até a porta.Me despedi dos meus irmãos e fui ao seu encontro.Descemos a escada e chegamos a um carro preto parecendo novo.Marcelo desligou o alarme e abriu a porta para nós.Entramos e esperamos ele dar a volta para entrar também.
    -Não sabia que tinha um carro. - falei assim que ele entrou.
    -Ano passado eu bati e tive que mandar arrumar.Meus pais tiraram o carro de mim até semana passada.Eles trouxeram ontem pra cá.
    -Ele não dirigi muito bem, mas dá para o gasto - Samantha sussurou.
    -Eu ouvi isso.
    -Ops.
    Andamos uns cinco quarteirões e chegamos à uma casa repleta de adolescentes.A música estava alta e tinham pessoas por todos os lados da casa.Pessoas bebendo,pessoas paquerando,pessoas caindo de bêbadas, pessoas se beijando e muitas outras coisas que não daria para listar.Quando Marcelo parou o carro na frente da casa, percebi que Gustavo estava vindo na nossa direção.Como ele sabia que éramos nós?Bem, ele veio até a minha porta, abriu para mim e me ofereceu a mão para sair.Eu olhei para Marcelo, que estava quase soltando fumaça pelas narinas.Desci do carro e esperei Gustavo abrir para a Sam também.Ele fechou a porta e se escorou na janela.
    -Eai, cara.Não vai ficar também?
    -Não estou afim. - Marcelo o encarava com raiva.
    -Tudo bem.Vou cuidar das meninas por você.
    -Espero mesmo que faça isso.
    Gustavo enganchou cada braço na cintura de uma de nós e começou a nos guiar até a casa.Olhei para trás, e Marcelo estava me olhando com uma cara confusa.Parecia que não queria que eu entrasse lá.Ele olhou furiosamente para as costas do Gustavo mais uma vez, deu a partida no carro e foi embora.Não sei porque, mas tive um mal pressentimento sobre aquilo.
 
***
 
    Ir em uma festa do terceiro ano pra ficar sentada no sofá vendo as garotas esfregarem o corpo todo nos meninos não era bem o que eu esperava daquela noite.Eu e a Sam fomos até a pista de dança, mas a única coisa que estava acontecendo lá era uma orgia pública.Passamos na mesa de bebidas, pegamos uma pra cada uma e sentamos.Depois de um tempo,vi Gustavo vindo até nós com um garoto ao seu lado.O garoto tinha pele clara, cabelos pretos e olhos castanhos.O início de barba estava por fazer e ele estava com uma camiseta cinza e calças jeans.Gustavo estendeu a mão para mim levantar e o garoto fez o mesmo para a Sam.
    -Meninas, esse é o Arthur, o anfitrião da festa. - Gustavo gritou para que pudéssemos ouvir.
    -Muito prazer. - dissemos para o Arthur.
    -O prazer é meu. - Ele respondeu.
    -Quero que você me veja tocar, vem comigo. - Gustavo pegou minha mão e começou a me puxar para perto do palco.
    -Mas e a Sam?
    -Ela vai ficar bem com o Arthur.Pedi pra ele levar ela até a pista de dança pra ter um tempinho com você. - ele virou a cabeça e sorriu.
    Chegamos no palco e ele sinalizou para eu ficar onde estava.Ele subiu no palco e alguns meninos o seguiram.Prepararam os instrumentos e Gustavo testou o microfone.
    -Ei, gente, estão se divertindo? - todo mundo gritou - Então vamos dar uma animada.
    Eles tocaram alguma músicas que eu conhecia e outras que eu nao fazia ideia de como se chamavam, mas eram boas.Os meninos tocavam muito bem, e Gustavo arasava na guitarra.Sem contar que cantava quase perfeitamente.Todos ao meu redor se moviam ao som da música ou cantavam junto com eles, e Gustavo olhava para mim e sorria constantemente.Quando acabaram, ele me levou até a pista de dança para dançarmos.Por sorte, só estavam tocando músicas rápidas, então não tive que ficar muito perto dele.Me mexia ao som da música e balançava os quadris.Olhando para o lado,vi Samantha ficando com um garoto loiro e alto, e Arthur falando com alguns garotos na mesa de bebidas.Gustavo se aproximou de mim para que eu pudesse ouvi-lo.
    -Você é a garota mais gata dessa festa. - ele gritou.
    -Obrigada . -O que dizer em uma hora dessas.
    -Vou beber alguma coisa.Já volto. - ele se afastou e sumiu em direção a mesa de bebidas.
    Eu não ia ficar como uma idiota no meio da pista de dança sozinha.Passei pelas pessoas e fui até o sofá.Alguns garotos me convidaram para dançar, mas recusei.Estava começando a ficar cansada.
    Olhei para os lados, e vi Gustavo falando com alguns garotos e olhando para mim.Ele saiu de perto dos amigos e veio em minha direção.
    -Voxê quer dançar? - ele perguntou.Era óbivo que estava podre de bêbado.Como ele conseguiu ficar daquele jeito em tão pouco tempo?
    -Não, obrigada.Acho que vou chamar a Sam e ir pra casa.
    -Qui é issu, Mah.Vamos lá fora um pouco? Preciso de um ar. - ele ofereceu a mão bamba para mim.
    Fui com ele até os fundos da casa e ficamos lá por um tempo.Eu quieta na parede, e ele caminhando e tentando não cair.De repente, ele chegou bem perto de mim.
    -Sabe o que eu queria agora?
    -O quê?
    -Te beijar.
    Ele pôs a mão na minha nuca e me puxou.Seus lábios estavam precionados com tanta força nos meus que machucavam.Seu hálito era pura cerveja.Eu tentei me afastar mas ele me puxou com mais força ainda.Ele me empurrou contra a parede e pôs a mão na minha coxa, erguendo minha perna.
    -Gustavo, já chega.Me larga. - tentei me soltar, mas ele me precionava cada vez mais.
    -Você não vai a lugar nenhum, garota.Tenho uma aposta pra vencer, e você faz parte dela. - ele disse, enquanto tentava puxar minha calcinha.
    Entrei em pânico.Tentava me soltar dele, mas ele me prendia cada vez mais.Tentei gritar, mas logo ele me beijou de novo e não pude fazer muita coisa.Me puxou com tanta força para perto de si que o ombro da minha blusa rasgou e meu sutiã ficou à mostra.
    -Melhor, menos trabalho pra mim. - ele disse.
    Tentava me soltar freneticamente.Ele estava abrindo o zíper da calça quando, de repente, ele me soltou tão rápido que caí no chão, tremendo.Não vi o que estava acontecendo, mas ouvi o barulho de socos e chutes. , 
    -Para cara, é só uma aposta.Qual o seu problema?! - Gustavo falava enquanto, eu acho,levava chutes no estômago.
    Quando o barulho parou, vi uma pessoa vindo em minha direção.Me encolhi perto da parede e não parei de tremer até ouvir a sua voz.
    -Vem, vou te levar pra casa. - Eu conhecia aquela voz.Era o Marcelo.
    Ele entrou no foco de uma lâmpada que estava a cima de mim e vi seu rosto.Ele estava com a mão estendida para mim.Aceitei sua mão e , quando levantei, o abraçei e desatei a chorar.Ele correspondeu o abraço e ficamos ali por um bom tempo.Quando nos largamos, sua camiseta preta estava ensopada.
    -Vamos até o carro.
    Ele pôs o braço na minha cintura e me levou até o carro.Abriu a porta para mim e me ajudou a entrar.Quando fechou a porta, passou o braço para dentro da janela e passou a mão na minha bochecha.
    -Vou buscar a Samantha e vamos para casa, tudo bem? Não saia daqui e não fale com nenhum desses babacas.
    Não tive forças pra responder.Ele tirou a mão de dentro do carro e foi até a casa.Quando voltou, Samantha estava à sua frente correndo até o carro.Ela abriu a porta do banco de trás, sentou do meu lado e me abraçou.
    -Meu Deus, Mari, eu sinto muito, sinto muito mesmo.Fui eu que fiz você vir.A culpa é toda minha.O que aquele idiota fez com você? está machucada? Eu sinto muito,eu...
    -Samantha, - Marcelo a interrompeu - chega.Ela já passou por coisas demais hoje.Deixe-a respirar.
    Samantha parou de falar e só me abraçou.Eu estava sem expressão.Não acreditava que tinha caído no papo daquele idiota.Não acreditava que tinha sido tão estúpida.Olhei para meus braços e as marcas de onde ele tinha apertado já estavam começando a ficar roxas.Meu irmão não ia gostar nada daquilo.
    Marcelo deixou a irmã no alojamento dela e me levou até o apartamento.Subimos as escadas, ele me abraçando, e abriu a porta para mim.Me levou até meu quarto, esperou eu tomar um banho para me limpar e colocar um pijama, e fez um lanche para mim.Deitei de lado na cama, e ele ficou sentado ao meu lado.
    -Me desculpa. - falei baixinho, chorando - Fui tão idiota.
    -A culpa não foi sua.Ele que era um babaca.
    -Você estava certo o tempo todo, e eu achei que você que estava sendo o idiota.Sinto tanto,Marcelo.Me desculpa.
    -Não se preocupe com isso agora.Só descanse.Amanhã vou vir aqui ver como você está.Também terei que contar o que aconteceu pro seu irmão.Tem algum problema?
    Neguei com a cabeça.Meus irmãos tinham que saber o que aconteceu.Eu não podia retrucar.
    -Obrigada por cuidar de mim. - eu disse.
    -Você ainda não entende, não é? - ele sussurou.
    Levantou da minha cama, pegou as chaves do carro na minha mesa, me deu um beijo na testa e foi até a porta.Antes de sair, olhou para mim.
    -Descanse, okay?Até amanhã, Mari.
    Ouvi passos no corredor e a porta do apartamento batendo.Meu coração estava pulando no peito, e não era só pelo que tinha acontecido.Não tinha mais como esconder de mim mesma.Não queria mais negar.Comecei a chorar sem parar.Eu era uma idiota de ter acreditado no Gustavo  e estava apaixonada pelo Marcelo.Estava apaixonada por um garoto que não podia ser meu.Chorei até as lágrimas secarem, e então peguei no sono.

 

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