Capítulo 17

    -Aquela professora podia morrer. - Leo disse, enquanto saíamos da sala com nossas mochilas para o intervalo - E eu iria dançar no túmulo dela.
    -Você é muito sombrio às vezes, Leonardo.Tudo bem que ela é uma vaca, mas ninguém no enterro mereceria ver a sua dancinha em cima do caixão. - Luisa disse.
    -Eu danço melhor que você em cima de caixões, pelo menos. - Leo retrucou.
    -Vai sonhando. - era a vez da Lu.
    -Os dois querem parar com isso? Ninguém mereceria ver qualquer um de vocês dançando em um túmulo, e os dois dançam bem em cima de caixões.Agora posso me concetrar?
    -Sim, senhora. - os dois responderam.
    Estava mandando uma mensagem para a Sam e o Marcelo, mas não conseguia me concentrar com os dois discutindo.Eles continuaram a falar, felizmente mais baixo, até chegarmos ao bar.Pedimos três sucos e ficamos conversando sobre a redação que tivemos que fazer na aula de português.Nem um de nós achava que tinha ido bem.
    Depois que acabamos nossos sucos e compramos balas para o resto da manhã, senti meu celular vibrar no bolso do casaco.Quando peguei-o, vi que era uma mensagem da Sam.
    "Notícia urgente.Você e a Luisa. Corredor. AGORA!"
    Cheguei mais perto da Luisa, que estava ao meu lado, e mostrei a mensagem a ela.Ela sorriu de um canto a outro do rosto.Deus sabia como aquela garota gostava de uma fofoca.Ela agarrou a mochila e meu braço ao mesmo tempo.Peguei minha mochila antes que ela me obrigasse a deixá-la na mesa e levantei.
    -Nos encontramos no teatro,Leo.Vamos. - Luisa disse me puxando e correndo.
    Tropecei nos meus próprios pés inúmeras vezes enquanto ela me puxava, me obrigando a tentar correr na mesma velocidade que ela.Quando chegamos aos degraus que antecipavam a porta de entrada na escola, Luisa acelerou mais ainda. Algumas pessoas estavam conversando em frente a porta, mas Luisa, do jeito que é, não se importou.Nos metemos no meio do pequeno circulo e passamos como duas loucas entre as pessoas. A única coisa que pude perceber do grupo, é que era composto de dois garotos e uma garota.
    -Desculpem! - tentei virar a cabeça e gritei na direção deles.Não tive tempo de ver a reação deles, pois já estávamos dentro da escola.
    Entramos no nosso bloco e fomos até o nosso corredor de encontro.Sam estava batendo o pé, impaciente, quando nos viu.Luisa me largou só quando estávamos frente a frente com a nossa amiga.
    -Até que enfim.Vocês não vão acreditar no que acabou de acontecer. - Sam disse, animada.Ela nos olhou de cima a baixo logo depois. - Vocês estão horríveis.Correram a maratona?
    -Se você considera sair correndo do bar, tropeçar mais do que eu posso contar e atropelar três pessoas na porta da escola correr uma maratona, então sim. - eu disse.
    -Não reclame. - Luisa falou.
    -Você atropelou eles!Você não, nós, porque eu fui arrastada até aqui.
    -Você pediu desculpas.
    -Era o mínimo que se podia fazer.
    -Querem calar a boca e me deixar falar? - Sam nos interrompeu.
    -Tudo bem, fala.
    -Arthur me convidou pra sair amanhã.
    -O QUÊ?! - eu e Luisa falamos, chocadas.
    -Eu sei! - Sam dava pulinhos - Eu estava saindo da sala e ele estava aqui fora. Conversamos um pouco e ele me convidou pra sair.Eu estou surtando!
    -Eu também estou, agora! - Luisa dava pulinhos com a nossa amiga - Você está com um garoto do terceiro ano! Isso é mais que sorte!
    -Não estou com ele. - Sam parou de pular, mas não de sorrir - AINDA.Vamos só sair.
    -Espera. Você não estava com o meu irmão? - perguntei.
    -Estávamos só ficando.A coisa mudou de figura assim que o Arthur me convidou pra sair.
    -Você me confunde, garota.
    Luisa fez Sam repetir todos os detalhes do pedido para o encontro uma centena de vezes, e Sam não se importou nem um pouco.Até ri um pouco delas, afinal, não estava acostumada a ver duas garotas tão animadas por uma coisa simples como aquela.Tudo bem, nem tão simples, mas eu não costumava ver aquilo como uma coisa tão extraordinária quanto as minhas duas amigas faziam parecer naquela hora.
    Senti meu celular vibrar de novo.Dessa vez, era uma mensagem do Marcelo.
    "Teatro. Já estou te esperando.Primeira fila.O Leo já está aqui também."
    -Meninas, temos que ir pro teatro.Os garotos já estão nos esperando.
    -Tudo bem, vamos logo. - Sam disse - Hoje o professor vai anunciar o festival oficialmente.
    -Sem atropelar mais ninguém, Luisa. - eu disse.
    -Engraçadinha.Vamos logo. - Luisa fez uma careta.
    Como estávamos no corredor, não demoraríamos muito pra chegar no teatro.Quando chegamos, o sinal já tinha tocado e  quase todo mundo já estava sentado, cada um conversando com o seu grupinho.Olhei para a primeira fila e avistei Marcelo acenando para nós.Descemos até lá e sentamos, eu do lado do Marcelo, óbivo, e minhas amigas do Lado do Leo.
    -Demoraram tanto por que? - Marcelo quis saber.
    -Coisas de garota. - respondemos todas juntas.
    -Nenhum cara tentando te roubar de mim, certo? - Marcelo me beijou.
    -Não, seu bobo.Mas parece que tem alguém interessado na sua irmãzinha. - olhei para Sam.
    -Mas e o Gabriel?
    -As coisas mudaram. - Sam disse, determinada.
    -E ele sabe disso? - Marcelo perguntou.
    -Ele não se importa com quem eu fico, e eu não me importo com quem ele fica.Por isso se chama "ficar", e não "namorar".
    -Sei, vem com essa pra cima de mim.
    -O professor chegou. - falei, olhando para a entrada do teatro.
    -Hora do show. - meus amigos se olharam, sorriram e falaram juntos.
 
***
 
    -Muito bem, alunos. - o professor Rafael estava no centro do palco, esperando o silêncio de todos, o que não demorou muito para acontecer - Como todos já sabem, vamos ter um festival em Junho, e quem vencer levará um ótimo prêmio que a escola conseguiu.Tenho certeza que quase todos vocês já se organizaram em grupos ou individualmente para a competição, então não teremos problemas com isso.Hoje, irei apresentar à vocês os jurados do nosso festival.Por favor, jurados.
    De trás da cortina puxada no palco, surgiram dois garotos e uma garota.A garota era muito bonita, alta e com a pele clara.Também era bem dotada,se é que me entendem, e sorria carismaticamente para todos.Estava abraçada com um garoto loiro, um pouco mais alto que ela.Tinha olhos claros, era bem definido, mas não era como aqueles caras que malham só a parte de cima do corpo.O outro menino, o que tinha me chamado mais a atenção, era moreno e tinha olhos castanhos.Olhando de longe, ele parecia ser o mais normal dos três, mas alguma coisa nele me intrigava.Todos eram muito bonitos, mas ele tinha uma beleza diferente.Estava de toca, suéter e jaqueta de couro.Uma mistura um tanto diferente, mas não deixava de ser estilosa.Ele analisava todos nas cadeira, até chegar em mim.Me encarou por mais tempo do que os outros, o que me deixou desconfortável, mas me pareceu que ninguém mais tinha notado.Desviei o olhar e ele continuou a analisar a todos.
    -Estes são Clara, Allan e Kye. - o professor proseguiu - Eles se tranferiram para a nossa escola e serão os jurados do nosso festival .Vocês devem estar se perguntando o porquê deles estarem em um cargo tão importante, mesmo sendo, agora, seus colegas.Eles são os integrantes de uma banda, digamos, bem conhecida fora da cidade.Vocês não devem conhecer, e fui informado que o grupo ainda não tem um nome, certo? - ele se virou para os três ao seu lado.
    -Acho que eles não precisavam dessa informação, Rafael. - o garoto loiro falou, sorrindo.
    -Que seja.Agora que já os conheceram, - ele se voltou para nós novamente - podem ir até a nossa sala de materiais pegar o que precisam.Eles ficarão na plateia para ver o potencial de vocês.Ao trabalho.
    Todos levantamos e começamos a subir os degraus do palco.Quando eu e Marcelo estavamos subindo, o professor e os três jurados passaram por nós.Esbarrei, sem querer, em um deles, e olhei para trás.O  garoto moreno me olhava.
    -Desculpa. - falei.
    -Sem problemas. - ele deu um meio sorriso.
    Sorri de volta e continuei a subir com Marcelo.Queria treinar as músicas que meu antigo professor de piano tinha me mandado, então nem precisei ir até a sala de materiais com os outros.Fiquei ali, tocando e mudando a base da música até ficar do jeito que eu queria.Metade daquele período depois, tinha uma melodia pronta.Eu havia escrito uma letra há algum tempo, mas não tinha a música que fosse compatível com ela, então testei ela com a música que tinha acabado de criar.Me impressionei, pois a letra combinou perfeitamente.
    -Que demais, Mari! - Luisa apareceu ao meu lado com a sua guitarra.
    -Você tem um futuro, garota. - Sam surgiu do meu outro lado com um baixo.
    -Que tal se misturarmos sua música com um pouco de animação? - Luisa propôs.
    -Você leu a minha mente. - sorri para ela - Queria tentar tocar ela com vocês.Só falta o Leo.
    -LEONARDO, VEM QUI! - as duas gritaram - E TRAZ A BATERIA!
    Quase no mesmo instante, Leo apareceu puxando o carrinho da bateria.Ele sorria para nós.
    -Chamaram, senhoritas?
    -A Mari escreveu uma música genial.Vamos tocar com ela. - Luisa falou.
    -Ótimo.
    Ficamos um tempo discutindo como cada um entraria na música.Luisa e Sam, além de tocarem, também seriam minhas segundas vozes.Leo se encarregaria da bateria, e eu do piano e da voz principal.De primeira, cantamos pra valer, e deu muito certo.A música transmitia uma energia tão boa, que comecei a sorrir enquanto cantava.Nossos colegas começaram a dançar e grutar "uhus" enquanto cantávamos e, quando terminamos, fomos aplaudidos por todos.
    -Isso foi demais! - Marcelo tinha vindo até o meu lado sim eu perceber.
    -Põe demais nisso! - uma outra voz veio de trás de mim.
    Todos nós olhamos para trás, e os jurados do festival estavam ali.A garota,Clara, sorria de um canto a outro do rosto.
    -Isso foi absolutamente incrível! Nunca ouvi algo assim. - ela disse.
    -Realmente, isso foi muito legal. - o garoto loiro sorria para nós.
    -Obrigada. - eu disse.
    -Nossa amiga é muito talentosa. - Luisa falou.
    -Para com isso,Luisa. - olhei para ela com uma cara de reprovação.
    -Parar por que? Você é muito talentosa mesmo.E vocês não deixam por menos, claro. - Clara disse - Quais são seus nomes?
    -Mariana.
    -Luisa.
    -Samantha.
    -Leonardo.
    -Bem, pessoal, eu sou a Clara, esse lindo loiro de olhos azuis é meu namorado, Allan, e o caladão ali é o Kye. - ela apontou para cada um - Nós temos que ser amigos.Não aceito não como resposta.
    -Tudo bem. - dei uma risada enquanto falava.Todos sorrimos para eles.
    -Essa música. - Kye se pronunciou pela primeira vez - Você que escreveu? - ele se dirigia a mim.
    -Sim.Quer dizer, meu antigo professor me mandou a música, mas eu mudei grande parte dela e escrevi a letra.Então pode-se dizer que fui eu que fiz, sim.
    -Impressionante. - ele sorriu para mim.
    -Concordo. - Marcelo sentou ao meu lado no banco do piano e passou o braço pelo meu ombro tão apertado que estava machucando um pouco - Minha garota é a mais talentosa daqui.
    -Não exagera. - Eu disse, me soltando um pouco dele.
    Quando olhei para Clara, Allan e Kye de novo, pude perceber que o sorriso de Kye tinha desaparecido.Aquele garoto era meio estranho.
    -Bom, parece que vocês já se inturmaram. - o professor Rafael apareceu - Uma pena que tenho que avisar que a aula de hoje terminou.Podem ir para casa, estão dispensados.Jurados, me acompanhem.Vou mostrar a escola e suas respectivas salas.
    -Até mais, pessoal. - Clara falou, levando Allan consigo.
    -Tchau, galera. - Allan disse.
    Kye passou por nós e os seguiu.Antes de estar longe demais, ele virou e acenou.
    -Até qualquer hora. - ele disse.
    Acenamos para eles e pegamos nossas coisas.Sam, Lu e Leo não paravam de falar dos três, e que não acreditavam que tinha feito amizade com uma banda conhecida de outra cidade.Quando peguei minhas coisas e me levantei, percebi que Marcelo escarava os três, junto com o professor, saindo do teatro.
    -Por que está encarando eles? - eu perguntei, me posicionando ao seu lado.
    -Não gostei daquele cara. - ele continuava sério.
    -Quem, o Kye? Deixa disso. Eles parecem ser legais.
    -Não sei não.
    -Ei. - virei seu rosto e o beijei - Relaxa.
    -Tudo bem. - ele sorriu.
    Pegamos o resto das nossas coisas e seguimos nossos amigos.Eles continuavam falando do festival e dos nossos três novos amigos. Eles pareciam ser pessoas muito legais e ótimos companheiros.A única coisa que me deixou curiosa foi o jeito meio estranho do Kye. Os outros dois eram tão alegres, agitados e sorriam o tempo todo, mas ele era mais calmo, na dele, e sério. O que aquele garoto tinha?

 

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